"Nasci em uma família de cinco irmãos. Meu pai queria um filho, mas só nasciam meninas. Por isso somos quatro mulheres e um homem. Meu pai e minha mãe nos criaram com muita dificuldade. Era difícil vestir uma família tão grande, porque o salário era pouco. Por isso minha mãe começou a costurar para fazer as nossas roupas, inclusive para meu pai e para ela. Comprar o tecido era mais barato.
Nossos vestidinhos eram muito elogiados aonde chegávamos. A costura sempre de primeira qualidade, porque ela tinha muito zelo pelas coisas que produzia. Lembro-me de uma cena que não sai da minha cabeça e repeti com minha filha: Enquanto ela costurava nós brincávamos no chão em volta dela, sempre no campo de visão e os mais velhos olhavam os mais novos. O prêmio pelo bom comportamento era sentar no colo dela enquanto pedalava a máquina. Era uma grande festa porque nós subíamos e descíamos com o pedalar.
Na medida em que fomos crescendo cada uma foi procurando fazer aquilo que mais gostava. Ajudávamos nos afazeres da casa, pois a partir de certa altura ela já estava costurando para ajudar no sustento da casa. Ela fazia coisas lindas!
Quando eu já estava com uns oito anos mais ou menos eu ajudava no arremate das costuras. Pregava botões, cortava fios de linha e tirava os alinhavos. Depois que aprendi a bordar, fazia também as casas para os botões.
Na medida em que o tempo passava, ela nos incumbia de uma obrigação a mais, sempre ensinando um pouquinho a mais e ela procurava aprimorar os conhecimentos dela fazendo cursos aqui e ali para melhorar os trabalhos. Houve uma época, que minha irmã mais nova foi trabalhar na TV Manchete e uma das apresentadoras do tele jornal, que adorava as roupas da minha irmã, pediu-lhe o contato da costureira dela. Minha mãe passou a costurar para ela. Ver as produções dela na TV era o máximo para a gente.
Passei a fazer algumas costuras, sempre com minha mãe na retaguarda. Ela interpretava o que nós queríamos, e produzia. Eu nunca cortei ou fiz um molde sequer, até que sai de casa, por uma contingência da vida, e fiquei longe dela. Os moldes que tentei fazer não deram em nada...
Quando casei e nasceu a minha filha, primeira neta, ela só pensava em fazer coisas bonitas. Qualquer retalho se transformava em lindo vestidos. Nas minhas férias, quando ia ao Rio, parte do tempo ficava com ela costurando. Esquecíamos da vida. Era muito bom.
Com a falta dela ao meu lado (ela no Rio e eu em BH) acabava juntando os meus projetos em relação às peças que desejava fazer e levava tudo para o Rio, na casa da mamãe!
Pela falta dela ao meu lado e por desejar costurar iniciei um curso de corte e costura no SENAC, mas paralisei porque minha filha era pequena e precisava muito de mim. O curso era dado por um alfaiate, mas foi por pouco tempo.
Onde eu moro em BH, no centro, tenho uma vizinha que costura muito bem. Ela faz vestidos lindos e aos poucos foi me contagiando para aprender a modelagem que ela praticava, até o dia que saiu uma matéria no jornal Estado de Minas sobre o Corte Centesimal, que ela já havia conhecia. A cunhada dela comprou o kit de moldes e deu-lhe de presente. Como ela não tem mais paciência pedia-me para copiar os moldes. Foi assim que me decidi pelo Corte Centesimal.
Pesquisei na internet uma professora para fazer esse curso e encontrei a Elisa Sayuri, que ensina o Método de Corte Centesimal. Comecei a cursar em janeiro de 2015 e fiquei apaixonada. Todas as etapas do curso, para mim, são agradáveis de fazer, mas a principal delas e a que mais me agrada é o processo de modelagem.
Maria Odila em sala de aula e com roupas feitas por ela.
A costura também eu gosto muito, mas a modelagem é mágico demais. Ver a peça surgir no papel e tomar a forma do corpo é fascinante. Além disso, tem o outro lado dessa atividade, que é conhecer outras pessoas, com outras histórias e de seguimentos diferentes do meu, e constatar que somos unidas pela magia da costura!
Quando comecei o curso minha mãe ficou orgulhosa de mim. Quando eu ia ao Rio, a partir dessa época, ficávamos conversando sobre o método. Eu mostrava para ela como era feito a modelagem e aos poucos comparava com o que ela sabia e ainda dizia: Você pode me ensinar? Dizia ela para mim. Ela ficou contagiada, queria mesmo aprender o método, mas não houve tempo. Ela partiu.
Atualmente faço o curso as segundas e quartas-feiras à noite. No dia anterior à noite já fico preparada para a aula do dia seguinte, pois vou diretamente do trabalho. Para mim tem sido uma terapia essa preparação, além do tempo que estou no curso. Gostaria muito de poder viabilizar na minha rotina doméstica um tempo para costurar também, mas ainda não foi possível. Mais para frente vou conseguir executar este projeto. Por enquanto sigo com a costura nos momentos das aulas e aos finais de semana, quando são menos concorridos.
Todos os detalhes e o capricho do vestido preto e branco, feito pela Maria Odíla.
Faz parte do meu projeto, também, costurar para as pessoas que estão a minha volta. Minha filha e meu marido estão no topo da lista. Quero fazer por eles o que minha mãe gostaria de estar fazendo se estivesse aqui e fez pelo meu pai, por mim, por minhas irmãs, pelo meu irmão, netos e “agregados”.
Contagiei minha irmã também, que nunca costurou. Com a falta da mamãe o meu pai começou a pedir para ela algumas “costuras”, mas ela não sabia atender os desejos dele. Ela já faz algumas peças lindas para a netinha dela que está com cinco meses, com o pouco que aprendeu.
É isso que posso falar sobre a mudança que o Corte Centesimal proporcionou na minha vida. Estou feliz demais! E realizada.
Maria Odila de Matos"