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Quatro gerações de mulheres

Aos 86 anos, Dora Melo Silva Teixeira não está preocupada em preparar docinhos para netinhos e para as três bisnetinhas. E nem pensa em participar de grupos de dança para idosos, nos finais de tarde. Instalada em um sítio próximo a Mateus Leme, cidade distante 60 quilômetros de Belo Horizonte, ela aproveita o final de cada dia de verão para nadar. Em comum com outras pessoas da mesma idade, apenas o hábito de ver novelas da noite e seguir as notícias do dia. Mas o que ela quer mesmo, apesar de dizer o contrário, é trabalhar.

Ainda com costumes - e manias - de quem foi, por 60 anos, dona e executiva, do Corte Centesimal, uma das empresas mais tradicionais no ensino e fornecimento de técnicas de modelagem, Dora Teixeira está mais preocupada com tarefas que precisa finalizar. Discretamente, dentro do possível, acompanha os resultados das vendas. Sem qualquer resistência diante das novas tecnologias, cada hora do dia é consumida na revisão de produtos e preparação de novidades para atender o mercado de modelistas, que cresce sob a demanda intensa da indústria da moda. “A modelagem é a alma de uma roupa”, assinala. Na estrutura de produção, modelistas desempenham papel semelhante ao de engenheiros, responsáveis pelos cálculos para a construção de casas.

Dora Teixeira integra o grupo restrito das mulheres que cresceram colocando em prática os conceitos do que o mundo corporativo chama, hoje, de empreendedorismo. Herdeira dos conhecimentos e do método desenvolvido pela mãe, Carmem de Andrade Melo Silva, a “quase-aposentada” microempresária gerencia, com o jeito próprio de quem aprendeu administração com a prática, o processo de transição para as novas gerações. Duas filhas e uma neta receberam e dividem funções administrativas, comerciais e de comunicação. E preservam a tradição da família, ao mesmo tempo empreendedora e feminina. Na realidade, milhares de outras mulheres tiveram, como professoras do Método Centesimal, condições de garantir o próprio sustento e de suas famílias.

Com anos de distância do surgimento do computador, a empresa cresceu com a formação de uma rede de milhares de mulheres em diferentes pontos do País. A rede incluia professoras que ensinavam o método para futuras costureiras. E outras, dedicadas a formar novas especialistas no ensino dos métodos. Ao estilo das mídias sociais de hoje, com o apoio de cartas escritas a mão e enviadas pelos correios, encaminhavam pedidos de material, trocavam ideias e relatavam histórias.

 

Transições

 

O Corte Centesimal já foi uma tradição das moças no passado. Ainda hoje, quem tem mais de 50 anos conhece o sistema de alguma forma. Pelo menos já ouviu falar. Afinal, até por volta dos anos 1970, aprender corte e costura fazia parte da lista das “exigências” do enxoval. Era essencial para quem iria lidar, necessariamente, com a máquina de costura, incluída na lista de presentes de famílias de classe média e alta renda. A revolução feminista e, mais que isso, a expansão da produção em série de roupas por indústrias alteraram o funcionamento do mercado. Como única dona a partir de 1970 - a mãe, Carmem, morreu em 1969 - Dora gerenciou e manteve viva a empresa, com lançamento de novos produtos e uma administração baseada em controle total sobre cada centavo que entrava ou saia.

Da década de 1980 aos primeiros anos do século atual, o Corte Centesimal garantiu a transição para a era tecnológica. Sem o mercado formado pela mulheres que aprendiam os segredos da costura para produzir roupas para a família, os sistemas se adaptaram para a demanda das indústrias de confecções. Em 2009, ao completar 80 anos, Dora Teixeira anunciou que deixaria o comando da empresa. Iria se aposentar, deixando o legado para as filhas Júnia e Lúcia. Pelo menos em tese.

A quarta geração assumiu com Carolina de Melo Franco, responsável por enfrentar desafios de reposicionamento da empresa tradicional, mas ainda com marca forte. “A hora é do marketing e da comunicação baseada em inovações tecnológicas”, assinala. Com formação em marketing e especialização em Gestão Estratégica, com ênfase em Marketing pela Fundação Dom Cabral, Carolina preserva o ciclo das mulheres executivas, com abordagem diferenciada sobre estratégias de atuação no mercado.

"Vamos mostrar a modelagem como fator de sucesso para as confecções, além de valorizar a profissão de modelista", anuncia Carolina. Ela já enfatiza e explora eficientemente os novos recursos de comunicação, como as mídiais sociais para fortalecer parcerias e redes de profissionais. Os resultados vieram com aumento de vendas, graças a acordos com novas escolas. Curiosamente, muitas mulheres redescobriram a empresa nas redes sociais. "O mercado de moda está aquecido e faltam profissionais", assinala Carolina. A empresa das empreendedoras quer se manter na posição que sempre teve: uma referência para o mercado. E um símbolo para outras empreendedoras.

 

Você Sabia?

O Corte Centesimal tem uma rede de professoras em várias regiões brasileiras.

 

 

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